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Que Mal Fiz Eu a Deus?

Titulo Original: Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu

Que Mal Eu Fiz a Deus? trata com bom humor embates culturais na França

Adalberto Meireles

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Que Mal Eu Fiz a Deus? é um estouro na França. Atraiu mais de 12 milhões de pessoas aos cinemas em 2014 e no Brasil foi um dos trunfos do recente Festival Varilux de Cinema Francês.

Dirigido por Philippe de Chauveron, pega carona na questão da imigração na Europa, embora não se concentre diretamente no tema, pois fala de pessoas já estabelecidas no país.

A eficiência, a despeito de não apresentar atores conhecidos, se dá basicamente porque o filme é bem cuidado, com bons intérpretes e narrativa fluente, e pela preocupação em discutir com leveza e bom humor temas delicados e pertinentes como o embate entre culturas.

No início, o filme concentra-se na família Verneuil, do casal Claude (Christian Clavier) e Marie (Chantal Lauby), pais conservadores e preconceituosos que veem na quarta filha, Laure (Élodie Fontan), a possibilidade de um casamento convencional.

Querem para a garota destino diferente das irmãs Odile (Julia Piaton), Ségolène (Émile Caen) e Isabelle (Frédérique Bel), que casaram com um judeu (Davi – Ari Abittan), um chinês (Chao – Frédéric Chau) e um argelino (Rachid – Medi Sadoun).

Africano

Tudo parece resolvido quando Laure anuncia que está noiva de um rapaz católico. Mal sabem os pais da família tradicional francesa que o futuro genro, embora da mesma religião, é africano da Costa do Marfim (Charles – Noom Diawara), também filho de pais extremamente conservadores e preocupados com a origem da nora.

Com efeito, Chauveron não está interessado na leva de pessoas que buscam um lugar ao sol na Europa. O universo aqui é de advogados, empresários e demais empreendedores que têm pouco a ver com os deserdados de Samba, outra produção francesa, dirigida por Eric Toledano e Olivier Nakache, atualmente em cartaz no Brasil.

O que salta aos olhos – e certamente contribuiu para o sucesso do filme na França – é que Chauveron trata com ironia a difundida e já considerada histórica xenofobia francesa, tão bem retratada em filmes como O Inquilino (1976).

Mas não da mesma forma que Roman Polanski. Em registro bem distante, atribui aos demais personagens também particular verve preconceituosa, destilando tirania por todos os poros.

Se está longe de ser uma obra-prima, Que Mal Eu Fiz a Deus? é um filme que garante bons momentos de diversão com inteligência e, por que não dizer, sarcasmo