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Criticas

Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte

Titulo Original: Gemma Bovery

Anne Fontaine faz releitura graciosa da obra de Flaubert

Adalberto Meireles

Não por acaso Martin Joubert (Fabrice Luchini) fala, no início de Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte, que Gustave Flaubert é ele. O padeiro faz uma citação da frase antológica dita pelo escritor francês ao ser perguntado quem era a personagem arquetípica da mulher infeliz e entediada do romance que publicou em 1857. - Madame Bovary sou eu, respondeu Flaubert.

A partir de então instaura-se a encantadora e atualizada versão cinematográfica de Madame Bovary, adaptada da graphic novel da inglesa Posy Simmonds, que a publicou originalmente no The Guardian. Gemma Bovery, de Anne Fontaine, é um comentário sutil e bem-humorado do romance que segundo Paulo Francis definiu a mulher moderna.

Joubert é um ex-acadêmico também entediado e apaixonado por literatura que preferiu a vida na Normandia, região do escritor, à agitação da cidade grande. Quando o casal inglês Charlie e Gemma Bovery (Jason Flemyng e Gemma Arterton) chega à vizinhança, ele estará livre para criar sua fantasia bucólica e provinciana em torno de Bovary. O padeiro fará de tudo para que na mulher não se repita o destino trágico da Emma de Flaubert.

O filme conta com a presença fulgurante de Arterton e muito do seu encanto se deve a ela, que foi a Agente Fields de 007 – Quantum of Solace (2008) e estrelou título de Stephen Frears baseado em outra história de Simmonds, Tamara Drewe, releitura de Longe da Multidão, de Thomas Hardy.

Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte é uma declaração de amor à atriz e personagem expressada pela presença quase cartunesca do padeiro frente à beleza da mulher.

Martin Joubert pode evocar ao mesmo tempo o encanto feminino dos filmes de François Truffaut e a paixão adolescente do garoto pela bela personagem de Jennifer O’Neill em Houve um Vez Um Verão (1971), de Robert Mulligan.

Com um acento trágico, como em Madame Bovary, mas flutuante e gracioso.