Cineinsite

FILME

Criticas

Hacker

Titulo Original: Blackhat

Filme do diretor Michael Mann subverte estética dos blockbusters

Adalberto Meireles

Nicholas Hathaway, personagem vivido por Chris Hemsworth, o Thor de Keneth Branagh, é um hacker que cumpre pena por operações ilegais e será liberado pela polícia para desvendar o ataque a uma usina nuclear na China e a bolsas de valores nos Estados Unidos. A ele se juntam o chinês Chen Dawai (Leehom Wang) e sua irmã, Lien Chen (Tang Wei), o par amoroso do ex-prisioneiro, patrocinados por aquele país, e, dentre outros, a agente do FBI Carol Barrett (Viola Davis).

A operação encampada pela China e EUA tem como locações Chicago, Los Angeles, Hong Kong, Kuala Lampur e Jacarta, onde se dá o desfecho. Sabe-se que os crimes foram cometidos por um certo Blackhat (o título original do filme), que pode ser uma organização ou um único homem. Mas logo é afastada a possibilidade de um motivo maior, além de interesses econômicos.

Lançado no início do ano nos EUA, Hacker foi arrasado. Foi tão mal nas primeiras semanas de exibição que a Universal abortou o lançamento comercial nos cinemas brasileiros. Custou US$ 70 milhões, rendeu menos de US$ 8 milhões nos EUA e cerca de US$ 9 milhões no exterior.

De chato e confuso a cansativo e sonolento, parece não haver lenitivo para o filme. Uma surpresa, sobretudo porque Mann já foi celebrado por títulos como Fogo Contra Fogo (1996), O Informante (1999), Colateral (2004) e Miami Vice (2006). Hacker seria, portanto, o início de uma derrocada. 

Mas é sintomático que logo Mann, um cineasta que, como bem poucos, sabe aliar criatividade a interesse público, sendo, portanto, notável entre seus pares do cinema mainstream norte-americano, tenha realmente saído do controle.

Resgate

Não custa lembrar Michael Cimino, o diretor que depois de alcançar o sucesso com O Franco Atirador (1978) foi levado ao ostracismo. Hoje tem sua obra resgatada e tida como fundamental entre a produção norte-americana dos anos 1970 e 80.

Sutil, inventivo, inteligente e reflexivo, Hacker tem uma das mais corretas e transparentes narrativas que o cinema de ação norte-americano apresentou nos últimos anos. 

É bom mesmo evocar sua simplicidade como um contraponto à pirotecnia dos blockbusters, enrolados em uma espiral de acontecimentos, para encontrar a chave do filme de Mann: o gosto pelo clareza da informações, a recusa a desenvolver um ritmo frenético e um providencial apego aos mais elementares recursos de linguagem.

Isso a despeito de ter uma história que se presta a toda sorte de malabarismo, a partir do momento inicial em que a câmera passeia por um sistema de computação, dá-se o ataque à usina chinesa, instaura-se o caos na bolsa e logo é anunciado o tema, em um primeiro momento, nada original: a caçada à rede criminosa virtual. 

Quem pensa estar diante de um emaranhado, engana-se. Bom momento aquele em que um policial pergunta à personagem de Viola Davis se ela perdeu alguém no 11 de Setembro e tem como resposta: “Meu marido”.

O filme subverte a estética dominante do efeito especial e do corte em movimento, que transformam boa parte do produto de ação em show de exibicionismo redundante. É provável que sua má fama se deva a isso: Hacker se move com elegância, às vezes de forma lenta como a demover o espectador da ideia de que o cinema seja um fliperama. 

Aliás, thriller cibernético, vai na contramão de uma indústria que sacraliza a ideia de eficiência como resultante do manejo fácil em um jogo eletrônico. Não há um momento sequer de enfado. É uma ironia, a máxima ironia.