Criticas
Titulo Original: Love
Adalberto Meireles
Gaspar Noé sabe tirar partido. Depois de provocar meio mundo com a narrativa ao contrário de Irreversível (2002), em que mergulha de forma brutal no submundo de Paris com direito a uma sequência de estupro de nove minutos, ele continuou chocando com as imagens psicodélicas de Viagem Alucinante (2009).
E agora escandaliza com o sexo explícito de Love, maior sucesso de público do último Festival de Cannes, em que exibe uma cena de ejaculação direcionada para a câmera, em ação digna de um pornô Z. Mostra uma história tão banal que seria ridícula não fossem as pretensões aparentes assimiladas no final do filme.
Love é um conto sobre o prazer e a dor de uma juventude que não sabe sequer fazer planos para a vida. E esta inabilidade, parece, será eterna.
Sem limites
Amor e sexo são explorados além do limite imaginável para um filme que corre os festivais do mundo e chega aos circuitos comerciais de cinema. Se o diretor franco-argentino queria proporcionar ao espectador a sensação de imersão, conseguiu.
A opção pelo 3D, associada à fotografia lisérgica de Benît Debit e à música de Johann Sebastian Bach, é ideal para provocar este sentido compreendido logo no início do filme, depois da longa sequência de masturbação entre Murphy (Karl Glusman) e Omi (Klara Kristin).
Tomado pelo tédio, ao acordar com a mulher, Murphy diz que se sente preso em uma gaiola. Ao acessar a mensagem de uma ligação da mãe da ex-namorada Electra (Aomi Muyock), que procura a filha desaparecida há dois meses, o rapaz passa a rever todos os acontecimentos que o levaram a estar ali, casado com Omi e pai de um garoto.
A câmera, não importa se fixa ou em movimento, será sempre um objeto oculto como indicativo das inclinações voyeurísticas do espectador. É por esta fresta que o cineasta conduz a narrativa, que será um exercício de estilo de alguém que já contou uma história inteira de trás para a frente e não se esquiva à auto-referência: o nome do filho do casal é Gaspar, e o do antigo namorado de Electra, Noé.
Pasolini
Salò – Os 120 Dias de Sodoma (1975), de Pier Paolo Pasolini, que volta e meia tem o cartaz exibido em Love, certamente teve presença fundamental no caminho de sexo e brutalidade traçado por Gaspar Noé até aqui.
É bom notar que Murphy é um estudante de cinema em Paris apaixonado por Stanley Kubrick. Seu filme favorito é 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), que traça uma rota no espaço aparentemente antagônica à ação de Love, por sua vez, uma viagem, mas por um universo íntimo.
O filme de Gaspar Noé é ainda uma citação do último filme do diretor norte-americano, De Olhos Bem Fechados (1998), este uma quase versão soft e cintilante da narrativa atroz de Salò.