Cinco anos depois, o que aconteceu antes e durante todo o processo de resgate pode ser visto no emocionante "Os 33", longa que já está em cartaz nos cinemas de Salvador.

O drama, que durou mais de dois meses, começa apresentando alguns dos chilenos que arriscam a vida nas temidas minas. Muitos são tipos divertidos, como o que imita Elvis Presley e o que tem uma esposa e uma amante - que moram frente a frente. Essa leveza é deixada de lado quando eles vão para o trabalho, em condições completamente insalubres.

A partir do segundo ato, quando finalmente os mineiros são descobertos vivos, mas ainda vão ter que esperar meses para sair, o filme ganha ares de "A Montanha dos Sete Abutres", clássico de Billy Wilder de 1951.

Forma-se um verdadeiro circo em torno da mina, com vendas de camisas com o rosto dos mineiros, presença maçante da mídia e advogados querendo se aproveitar da fraqueza das famílias. E, claro, há também grandes marcas mundiais, como Nike e Apple, dando seus produtos para os mineiros pelo tubo de comunicação.

A diretora Patricia Riggen, que está em seu terceiro longa, é hábil em contar a história, que é baseada no livro Na Escuridão, do jornalista americano Hector Tobar.

Riggen sempre faz questão de mostrar planos abertos do gigantesco Deserto de Atacama, onde ficava a mina, para confrontar com os claustrofóbicos planos de onde estavam os 33 homens sobrevivendo sem banho e com pouca comida.

Elenco multicultural

Para vender o filme em todos os mercados possíveis, os produtores se cercaram de atores de diversos países. Há Juliette Binoche, com toda a sua estampa e fleuma francesa, interpretando - e convencendo - uma chilena vendedora de empanados e irmã de um dos mineiros, tem o presidente chileno vivido pelo americano Bob Gunton.

Há também o espanhol Antonio Banderas - em atuação vigorosa, como nos velhos tempos -, o irlandês Gabriel Byrne, a inglesa Naomi Scott e até um filipino, Lou Diamond Phillips, de La Bamba, que interpreta o chefe Don Lucho, outro destaque do elenco.

E o Brasil também está representado por Rodrigo Santoro, que interpreta um dos papéis mais importantes do filme, o do ministro de Minas do Chile, Laurence Golborne.

Infelizmente, Santoro é o elo fraco dessa corrente multicultural. Ele não consegue convencer como o político, sempre sussurrando, inclusive quando grita, e quase não se expressa - nem nos momentos mais dramáticos de Os 33, que não são poucos.

Quando contracena com Juliete Binoche, então, é covardia. A atriz mostra o quão excelente é ao conseguir se inserir em um mundo completamente diferente do qual estamos acostumados a vê-la.

"Os 33" é uma grata surpresa neste ano conseguindo entreter e emocionar com uma história trágica.