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Criticas

O Olmo e a Gaivota

Titulo Original: O Olmo e a Gaivota

Filme revela beleza intrínseca da maternidade

Adalberto Meireles

Em Elena (2012), a cineasta mineira Petra Costa incursionava com habilidade por um universo pessoal delicado ao investigar o mistério em torno do suicídio da irmã.

Em Olmo e a Gaivota, não foge ao particular. Concentra-se na vida de um casal de atores do Théâtre du Soleil, a italiana Olivia Corsini e o francês Serge Nicolaï. Eles se preparam para a montagem da peça A Gaivota, do russo Tchecov, mas a mulher descobre que está grávida.

Dirigido em parceria com a cineasta dinamarquesa Lea Glob, o filme revela sua natureza hibrida desde a nascente. É fruto da colaboração entre a Zentropa Enterteinments, do também dinamarquês Lars von Trier, a portuguesa O Som e a Fúria e a brasileira Busca Vida Filmes, tendo o ator e diretor norte-americano Tim Robbins como produtor executivo. E trabalha no limite entre a realidade e a ficção.

Cinema e teatro

Olmo e a Gaivota acompanha o cotidiano do casal nos meses seguintes. Mergulha na intimidade de Olívia, que tem o período de gestação exposto como jamais se viu no cinema, e desnuda por completo a mulher. “É um tema muito pouco retratado, apesar de todo ser humano existir através da gravidez”, afirmou a diretora brasileira ao participar do Panorama Coisa de Cinema, em Salvador.

Como se entendessem a necessidade de dirigir um olhar diferenciado para o fato e sua natureza, não deixando de revelar a beleza intrínseca ao gesto recorrente e peculiar que cerca a espera de um filho, Petra e Lea vão além do óbvio.

O filme pode ser visto como a representação da vida (não à toa, ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio), mas aparece ainda como a encenação do cotidiano de Olívia – e do casal – esgrimida na fronteira do cinema com o teatro.

Ao fundar essa relação, as diretoras friccionam as linhas narrativas, que se encontram quando Olívia, em sua solidão, se vê refletida em duas personagens, também atrizes, de A Gaivota. A mulher foi duramente confrontada ao descobrir um problema na gravidez que a obrigou a permanecer em repouso durante o período de gestação, impedindo-a de atuar, como esperava, até às vésperas da estreia.

Estreia

Olivia é questionada também sobre a inadequação, em seu estado, de interpretar a atriz de Tchecov. A impossibilidade abre uma fresta para que a mulher se revele no estado de isolamento absoluto. "Sinto que tem um alien dentro de mim”, diz, em determinado momento, dessacralizando o discurso de encanto e ternura que domina período tão característico.

Em Tio Vania em Nova York (1994), o francês Louis Malle, que morreu em 95, despediu-se do cinema ao acompanhar um grupo de teatro preparando texto clássico (não por acaso) de Tchecov. Olmo e a Gaivota é na verdade um gesto contínuo de preparação para a estreia. Petra e Lea fazem do tempo de gestação o ensaio. Olívia não abandona o palco jamais.