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Criticas

Aliança do crime

Titulo Original: Black Mass

"Aliança do Crime" tem Depp inspirado, mas roteiro fraco

Bruno Porciuncula

Na década de 70, o sul de Boston, nos Estados Unidos, era dominado pela máfia italiana. Mas James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), um criminoso de descendência irlandesa, e recém-saído da famosa prisão de Alcatraz, começava a chamar a atenção do FBI.

O agente John Connoly (Joel Edgerton), que cresceu com Jimmy, como o criminoso era carinhosamente chamado, faz então uma proposta: que ele contribua nas investigações para eliminar a máfia italiana. Essa inusitada contribuição é a mola propulsora de Aliança do Crime, longa que estreia hoje nos cinemas.

Baseado no livro Black Mass: The True Story of an Unholy Alliance Between the FBI and the Irish Mob, o filme mostra como Jimmy, graças à contribuição que dava ao FBI, conseguiu consolidar o poder e se tornar um dos gangsters mais procurados da história – estando, inclusive, lado a lado de Bin Laden na lista das agências dos Estados Unidos.

Sem foco

O filme tem violência? Sim, como qualquer um que envolva gangsters. Porém, não apresenta nada de novo. Nada que já não tenha sido mostrado dezenas de vezes no cinema em filmes como O Poderoso Chefão (1972) e até Os Infiltrados (2006).

O roteiro escrito pela dupla Mark Mallouk e Jez Butterworth não sabe muito bem o que focar na narrativa. E olha que tinha ingredientes interessantes: o crescimento de Jimmy no crime, a relação dele com o irmão – um importante senador dos Estados Unidos – ou com o próprio agente do FBI.

Tudo renderia uma boa história se fosse melhor tratada, mas o filme “atira” para todos os lados e acaba errando. O roteiro deixa de lado personagens importantes na história. A esposa de Jimmy, interpretada por Dakota Johnson (50 Tons de Cinza), desaparece sem nenhuma explicação ainda no primeiro ato. Não que faça muito falta, já que, no pouco tempo que aparece, Dakota parece estar deslocada naquele ambiente criminoso.

O excelente ator Benedict Cumberbatch (Sherlock) dá vida ao senador Billy Bulger. Com pouco o que fazer graças ao roteiro, Cumberbatch surge sempre em piloto automático nas poucas cenas em que aparece, desperdiçando um talento.

Tom ameno

A escolha de Depp para protagonizar o longa poderia ter sido um acerto dos produtores – foi, apenas no sentido de que o filme acaba atraindo a atenção do público. Acostumado a sempre se caracterizar nos papéis que interpreta, o ator aparece aqui com uma prótese que lhe deixa mais careca e com um dos dentes podres.

O problema é que escolher um ator consagrado e carismático para interpretar um criminoso, em Aliança do Crime, se mostrou um erro na tela. O roteiro claramente ameniza as ações de Jimmy. Ele é um dos criminosos mais cruéis que se tem notícia, capaz de matar homens e mulheres com torturas – e até arrancando os dentes.

Mas muito pouco disso é mostrado. O filme nos apresenta um homem meio dúbio, com momentos até carinhosos, e que tinha um código de honra: admitia alguns erros de comparsas, mas não perdoava delatores – apesar de ser um para o FBI.

Mas a atuação de Johnny Depp se destaca e ele mostra que está em boa forma, algo que ele devia há alguns anos – mais precisamente desde que incorporou Capitão Jack Sparrow em Piratas do Caribe (2003).

Mais sobre Jimmy

Para saber mais sobre os crimes de Jimmy, seja antes ou depois de ir aos cinemas para Aliança do Crime, a dica é assistir ao documentário Whitey: United States of America v. James J. Bulger, no serviço de streaming Netflix.

O documentário confronta inclusive algumas informações do filme, o que acaba dando um suporte para quem gosta do tema envolvendo máfia e gangsters.

E mostra como Jimmy era um sujeito muito mais implacável do que o retratado em Aliança do Crime.