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Criticas

O Clã

Titulo Original: El Clan

Pecados de uma sociedade adoecida

Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

Com O Clã, o aclamado cineasta argentino Pablo Trapero toca numa ferida da história política de seu país através do caso real da família Puccio, tradicional na high society argentina.

Todos os membros são impassíveis diante do segredo brutal que escondem: praticam sequestros de gente rica para ganhar resgate. Guillermo Francella interpreta, com força gélida de olhar e postura, o patriarca e cabeça das operações, tendo de lidar com o questionamento do filho Alejandro (Peter Lanzani).

O filme está o tempo todo do lado de dentro desse núcleo familiar, observando como se estrutura aquela rotina sádica (as vítimas ficam presas em cômodos escondidos na própria casa da família), enquanto a vida de cada um segue normalmente.

O diretor continua seu belo trabalho de encenação, com câmera elegante e cada vez mais sutil, o que lhe valeu um merecido Leão de Prata de melhor diretor no último Festival de Veneza. O único porém fica por conta de uma montagem que às vezes antecipa certas situações e tira a força do clímax do filme.

O Clã lembra a grande qualidade do cinema argentino atual em remexer sua história recente, olhar para as mazelas sociais e políticas de há relativamente pouco tempo, de maneira corajosa, crítica, revisional.

Vale lembrar que a Argentina acabava de sair de um regime ditatorial em 1983, e essa história não deixa de revelar aspectos doentios de uma sociedade que conviveu com a opressão e a perda de princípios morais.