Criticas
Titulo Original: Creed
Bruno Porciuncula
Filmes de boxe são praticamente todos iguais. Pugilista vem de uma vida dura, quer vencer no boxe pois é tudo o que resta e, no final, a consagração. Bem, Rocky, em 1976, subverteu um pouco essa lógica. E, quarenta anos depois, "Creed - Nascido para Lutar" aparece para dar novamente um frescor ao gênero "filme de luta" com muita competência.
O jovem Adonis Creed (Michael B. Jordan) carrega o peso de ser filho do campeão Apolo Creed - adversário de Rocky (Sylvester Stallone) nos dois primeiros filmes e treinador no terceiro. Ele tem um ótimo emprego, mora em uma mansão, mas é infeliz, pois quer ser um pugilista. Sem técnica, participa - e vence - lutas clandestinas. Mas ele quer se tornar profissional e apenas uma pessoa pode ajudá-lo: Rocky Balboa.
Adonis então parte para Filadélfia para encontrar o velho amigo do pai e tentar ser treinado por ele. Mas não será fácil convencer o "garanhão italiano" a deixar a vida pacata para voltar aos holofotes.
Qualidade acima da média
Creed é um filme cheio de méritos. A maior parte deles cabe ao diretor e roteirista Ryan Coogler, de apenas 29 anos. Ele conseguiu criar um filme redondo, com personagens carismáticos e tridimensionais, diálogos fortes e uma ótima história (não se surpreenda se algumas lágrimas caírem ao final da projeção).
Muito dos personagens se devem às qualidades de Michael B. Jordan - que, depois de Creed, está perdoado por ter participado do péssimo Quarteto Fantástico - e Sylvester Stallone. É, quem diria que qualidade na atuação e Stallone poderiam estar juntos em uma mesma frase. Mas o ator é o próprio Rocky Balboa, um personagem que emociona. Não à toa, venceu o Globo de Ouro no domingo passado e tem grandes chances de Oscar como ator coadjuvante.
O Adonis Creed, de Jordan, é um personagem carismático, inteligente, que poderia ser um amigo nosso. E também tem fraquezas. Em uma determinada cena, antes de uma importante luta, ainda no primeiro ato, o personagem já está todo pronto para ir para o ringue. Ao ouvir as regras da luta, ainda no vestiário, tem uma crise de dor de barriga e pede para tirarem a luva, pois precisa ir ao banheiro.
Rocky e Creed formam uma parceria verdadeira, que comove, lembrando, obviamente, pai e filho.
A trilha sonora, que mistura hip hop com música clássica, também é um acerto da produção. A famosa "Gonna Fly Now" poderia ter sido utilizada exaustivamente, mas apenas os primeiros acordes aparecem pontualmente durante a projeção, mas o suficiente para emocionar e arrepiar - algo comum durante as 2 horas de filme.
"Creed - Nascido para Lutar" é uma grata surpresa no ano. O longa consegue fazer com maestria a mistura do passado e do presente, deixando o campo aberto para formar uma nova franquia com identidade própria, sem precisar se apoiar eternamente em Rocky. Mas o velho pugilista ainda vai voltar para a sequência, que já está sendo planejada.
A única baixa é o diretor Ryan Coogler, que vai se aventurar no mundo Marvel na direção do filme de super-herói "Pantera Negra".