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O Regresso

Titulo Original: The Revenant

Iñárritu expõe espíritos antagônicos em O Regress

Adalberto Meireles | jornalista

Produção de US$ 135 milhões baseada no livro de Michael Punke, filmada inicialmente nas montanhas geladas do Canadá e depois na Argentina, O Regresso é um veículo para Leonardo DiCaprio, favorito ao Oscar de Melhor Ator no próximo dia 28, que já concorreu quatro vezes ao prêmio.

O filme põe em evidência a luta do homem contra a natureza, mas impõe-se como um exercício estilístico radical que expõe, às vísceras, a barbaridade. Muito dessa experiência se deve ao diretor de fotografia, Emmanuel Lubezki, que pode ganhar a estatueta pela terceira vez, depois de Gravidade, em 2014, e Birdman (2015), dirigido pelo próprio Iñárritu.

Os planos longos, os enquadramentos insólitos, as imagens das montanhas tomadas pelo gelo, a neve, os rios e cachoeiras, tudo filmado com luz natural, são impressionantes e fundamentais para inserir o espectador na vertigem do explorador Hugh Glass (Leonardo Di Caprio).

Ferido mortalmente por uma ursa que sai em defesa dos filhotes, ele terá o tempo necessário para viver todo o tipo de dificuldade e vencer uma experiência insólita e aterradora. Quem sabe até depurar sua sede de vingança por ser abandonado à morte pelo companheiro John Fitzgerald (Tom Hardy).

Ambos integram uma equipe de caçadores e mercadores de peles, comandada por Andrew Henry (Domhnall Gleeson), antes atacada e quase dizimada pelos índios ao descer o Rio Missouri. Guia da expedição, Glass provoca a ira de Fitzgerald ao aconselhar o grupo a abandonar o barco e seguir por terra para evitar nova emboscada.

No páreo do Oscar pela segunda vez consecutiva, depois de ganhar o prêmio de direção, no ano passado, Iñárritu assume outra dimensão. Temos aí um filme sobre a vingança, mas tudo aponta para o limite da selvageria. O Regresso vai buscar suas maiores influências no western revisionista do final dos anos 1960 e inicio dos 1970.

Mais próximo de Jeremiah Johnson (Mais Forte Que a Vingança, 1971), em que Robert Redford faz um soldado que abandona a farda e vai viver nas montanhas, com os índios, há resquícios do personagem do filme de Sydney Pollack na relação anterior de Glass com a índia que lhe deu o filho mestiço Hawk (Forrest Goodluck).

Vê-se com muita atenção e cuidado, mas O Regresso é um filme que extenua, dado o exagero de situações que submete o personagem de DiCaprio em sua luta contra a morte, e não se pode esquecer, ainda, que uma história muito parecida foi filmada por Richard C. Sarafian, em 1971, como Fúria Selvagem, com Richard Harris.

Mas há pelo menos duas sequências análogas que fazem a diferença. Primeiro, o ataque do animal, que expõe à fragilidade o personagem de DiCaprio e o deixa vulnerável a Fitzgerald, e o momento final, contraponto à ferocidade explícita do antagonista, quando Glass toma uma atitude de certo modo surpreendente. Ali, então, Iñárritu diz o que pertence à civilização e o que pertence à barbárie.