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Zoom

Titulo Original: Zoom

Zoom trata de metalinguagem, mas se perde no humor adolescente

Chico Castro Jr.

Metalinguagem é uma linguagem criada para falar dela própria. Exemplo rápido: um filme que fala de um filme – como Zoom, a coprodução Brasil/Canadá dirigida por Pedro Morelli. A prática não é nova. Há inúmeros filmes que apresentam narrativas dentro de narrativas para refletir sobre o próprio cinema, ou mesmo sobre o ato de criar.

Sem puxar muito pela memória, pode-se citar desde clássicos como "Cantando na Chuva" (1952), "O Desprezo" (1963) e "A Noite Americana" (1973) até filmes mais recentes, como "Adaptação" (2002) e a estética da “gravação encontrada”, inaugurada por "A Bruxa de Blair" (1999).

Zoom transita nessa seara com alguma habilidade, costurando três narrativas paralelas, sendo uma delas animação em técnica de rotoscopia – na qual o filme, após ser rodado com atores, é pintado, adicionando-se cenários e efeitos. Um exemplo é "Waking Life" (2002), de Richard Linklater.

Bonecas russas

Em Zoom, o espectador é inicialmente apresentado ao casal Emma (Alison Pill) e Bob (Tyler Labine), que trabalham juntos em uma fábrica de brinquedos sexuais e transam no horário do almoço. Insegura, insatisfeita com seus atributos, Emma resolve fazer um implante de silicone nos seios.

À noite, em casa, ela desenha uma história em quadrinhos protagonizada por um idealizado homem dos sonhos, Edward (Gael García Bernal). A HQ ganha vida como animação e vemos Edward, que é diretor de filmes de ação comerciais, lutando para se firmar como artista sério, fazendo um filme “de arte”, estrelado pela modelo brasileira Michelle (Mariana Ximenes).

O filme de Edward, então, ganha a tela, mostrando uma modelo que luta para se tornar escritora, mesmo contra a vontade do marido, Dale (Jason Priestley, o eterno Brandon de Barrados no Baile).

No bloquinho em que rascunha seu livro, Michelle escreve sobre Emma, uma insegura funcionária de uma fábrica de artigos sexuais que desenha uma história em quadrinhos sobre Edward, diretor de cinema bonitão que dirige um filme sobre Michelle.

Fechado o triângulo metalinguístico, Emma/Edward/ Michelle, o espectador fica confuso: quem “criou” quem? O que exatamente está sendo contado: a história de Emma, Edward ou Michelle? Qual o sentido de tudo isto?

Perdido em piadas bobas

A premissa, a princípio interessante, porém, se perde em meio ao tom de comédia adolescente que o filme assume em boa parte de sua projeção. Mesmo “turbinada”, Emma continua com problemas com sua autoimagem. Irada, decide arruinar a vida sexual do seu personagem, Edward, dando-lhe um pênis minúsculo.

Edward passa quase todo o seu tempo de tela tentando resolver este problema, com direito a menages frustrados e aparelhos milagrosos de aumento peniano.

Emma e Bob, por sua vez, ainda se envolvem em uma invasão domiciliar digna de um filme d’Os Trapalhões. Já Michelle, que dá um pé em Brandon – ops, Dale – vem ao Brasil, onde tem uma iniciação lésbica com uma caiçara, interpretada por Cláudia Ohana.

Em comum, os três protagonistas compartilham a insatisfação com suas condições. Com generosidade, pode-se dizer que Zoom é um filme sobre inadequação. Tudo se encaminha para um cruzamento das três narrativas no qual sobra adrenalina, mas falta uma conclusão satisfatória – tanto para reflexão da metalinguagem, quanto para a própria trama do filme.

Mais para um exercício de estilo superficial – entremeado por piadas sexuais manjadas – do que o filme “de arte” que se propõe a ser, Zoom pode ser assistido, no máximo, como passatempo despretensioso.